O dia 25 de julho é dedicado, pela igreja Católica, a são Tiago, um dos discípulos de Jesus, que é especialmente celebrado em Santiago de Compostela, na Galiza, atraindo nesta altura do ano milhares de peregrinos oriundos do Mundo inteiro, que percorrem os chamados “caminhos de santiago”.
Santiago de Compostela é uma cidade localizada na Galiza, bem perto da fronteira com Portugal, e foi assim batizada por terem sido encontrados nesta cidade os restos mortais de São Tiago Maior, um dos principais Apóstolos de Jesus. De tal forma esta devoção ganhou significado que foi erigida uma catedral nesta cidade e foram criados os “caminhos de Santiago”, rotas de peregrinação que são percorridas por milhares de peregrinos. Todas elas vão dar a Santiago de Compostela, e esta caminhada é considerada um importante rito de passagem para quem a faz, sendo, para além de uma viagem de fé, acima de tudo uma importante jornada de fortalecimento da espiritualidade e de autoconhecimento.
O Apóstolo Tiago (conhecido como São Tiago Maior) era um dos amigos mais próximos de Jesus. Pescador, foi convidado por Jesus para ser seu discípulo e “pescar” almas, difundindo a fé cristã. Esteve ao lado de Jesus em momentos importantes da história do Cristianismo, protagonizando alguns dos seus maiores milagres como, por exemplo, a Transfiguração do Senhor. Após a morte de Jesus, os seus discípulos partiram para espalhar a Sua palavra Mundo afora, e Tiago dirigiu-se a Espanha, sendo o responsável pela evangelização deste país, do qual se tornou padroeiro. Foi morto por ordem do rei Herodes, quando regressou a Jerusalém, sendo o único Apóstolo de Jesus sacrificado pela fé e cuja morte vem descrita na Bíblia, onde é narrado que antes de morrer abraçou o seu carcereiro, fazendo votos que a paz de Cristo o acompanhasse. Tal gesto provocou tamanha emoção no carcereiro, que ele próprio também se converteu e, como consequência, foi igualmente sacrificado. Conta-se que o corpo de Tiago foi sepultado em Jerusalém, tendo sido depois levado por dois Apóstolos para a Galiza, onde Tiago viveu.
A devoção à localidade que haveria de ser chamada Santiago de Compostela começou quando, no século IX, um eremita que vivia no bosque de Libredón viu durante várias noites seguidas um curioso fenómeno celeste, como se de uma chuva de estrelas se tratasse. Estranhando a espetacularidade de tal fenómeno, contou o que vira, o que fez com que fossem feitas escavações nesse local, no qual se encontraram os restos mortais de alguém que, segundo as evidências, seria São Tiago. Por esse motivo, foram erigidas três Igrejas nesse lugar e, havendo uma forte afluência de peregrinos, o rei Afonso III deu ordem para que ali se construísse uma catedral, no ano 872. À medida que os anos passavam, para além dos peregrinos espanhóis, também franceses começaram a deslocar-se a Santiago de Compostela, seguindo-se alemães e ingleses, o que deu origem à criação de caminhos específicos que conduziam até o local de culto – e assim surgiram os “caminhos de Santiago”. Na Idade Média, a Igreja concedia o perdão total dos pecados àqueles que se dirigissem a Santiago de Compostela, o que fez com que se tornasse o terceiro maior local de culto católico, depois de Jerusalém e de Roma.
São vários os caminhos de Santiago que atravessam a Europa havendo, entre eles, o caminho português, que parte da Igreja de Santiago em Lisboa ou da Sé Catedral, podendo ser feito junto à Costa ou, num percurso alternativo, pelo interior. Todos os Caminhos de Santiago são assinalados pelos marcos com a concha de vieira, um dos principais símbolos associados a São Tiago, e por setas amarelas, que conduzem os peregrinos rumo ao seu destino: a catedral de Santiago, onde os peregrinos abraçam a imagem do santo.
São Tiago é padroeiro dos peregrinos, dos cavaleiros, dos farmacêuticos, dos veterinários e dos químicos.
São inúmeras as razões que motivam alguém a percorrer o caminho de Santiago e, para além da fé e devoção a este santo, é comum que este desafio surja quando a pessoa está em busca de um maior autoconhecimento, de uma luz que a ajude a encontrar o seu próprio caminho na vida. Cabe a cada um escolher de onde parte, se vai a pé, de bicicleta ou a cavalo, se escolhe ir só ou em grupo. As dificuldades do percurso, as paragens onde pernoita e pode interagir com outras pessoas, a partilha de histórias, a superação de provas são apenas alguns dos aspetos que fazem desta jornada uma experiência singular.
Curiosidades:
- Um dos nomes atribuídos à nossa galáxia, a Via Láctea, é “Caminho de Santiago”, porque se acredita que, de noite, as estrelas mostram o caminho até Santiago de Compostela.
- Os Caminhos de Santiago são assinalados por conchas de vieira gravadas em marcos de pedra. Há várias explicações para o uso deste símbolo: uma delas conta que inicialmente a peregrinação terminava em Finisterra, e que aqueles que lá chegavam levavam consigo uma concha, para provarem aos amigos e familiares que haviam lá estado. Por outro lado, a concha representa o renascimento espiritual que aqueles que percorrem o caminho experimentam, e cada veio simboliza os diferentes caminhos que confluem no mesmo lugar. Além disso, a concha era um dos amuletos usados na Idade Média contra pragas e, por isso, os peregrinos levavam consigo uma concha como amuleto.
- Há também uma tradição, segundo a qual cada peregrino coloca na mochila, no início do caminho, uma pedra por cada problema do qual se quer libertar. Ao chegar à Cruz de Fierro, atira as pedras por cima dos ombros, deixando para trás problemas, vícios, e aquilo que o incomoda. Há, ainda, a tradição de empilhar pedras na zona de Torre del rio, que simbolizam os problemas que são deixados para trás. Inicialmente, estas pilhas de pedras eram usadas para sinalizar o caminho.