Os Pastorinhos de Fátima foram as três crianças portuguesas que viveram e testemunharam as chamadas aparições de Fátima, ocorridas entre 1916 e 1917, na Cova da Iria. Conheça a história de cada um deles.
As três crianças assistiram, durante o ano de 1916, a três aparições de um Anjo, identificado como Anjo da Paz, ou Anjo de Portugal. O relato destas aparições permaneceu em segredo até 1937, até Lúcia as divulgar, pela primeira vez, na designada obra Memórias da Irmã Lúcia I. A narração mais completa dos restantes acontecimentos e o texto definitivo das orações do Anjo foram, posteriormente, publicadas na obra Memórias da Irmã Lúcia II, escrita em 1941. Saiba um pouco mais sobre cada um dos 3 Pastorinhos.
Francisco
Francisco de Jesus Marto nasceu em Fátima, conselho de Ourém, no dia 11 de junho de 1908. Francisco ficou conhecido como Beato Francisco de Fátima e da Igreja Católica, por ter sido um dos três pastorinhos que testemunharam a aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria, de 13 de maio até 13 de outubro de 1917.
Francisco era o filho mais velho de Manuel Pedro Marto e de Olímpia de Jesus dos Santos. O pequeno vidente teve a típica educação de uma criança do Portugal rural da primeira metade do século XX. Naquela época não era obrigatório frequentar o ensino e Francisco não foi à escola. Começou muito cedo a trabalhar como pastor, juntamente com a irmã Jacinta e a prima Lúcia. Como Nossa Senhora sugeriu, numa das aparições, que começasse a frequentar a escola, Francisco ainda ingressou no ensino primário, mas acabou por desistir.
De acordo com as memórias de Lúcia registadas nos livros que escreveu ao longo da vida, Francisco era um menino muito afável, calmo, que gostava de música, chegando mesmo a mostrar alguma habilidade para tocar o pífaro. Apesar da sua curta vida, Francisco sabia defender muito bem as suas opiniões, revelando habilidade para acalmar os ânimos mais exaltados e respeito para com as pessoas mais velhas. Segundo Lúcia, até os animais eram alvo da bondade do pequeno Francisco.
Assim que se deram as primeiras aparições da Mãe de Jesus, o comportamento dos dois irmãos alterou-se, e Francisco, sempre que sentia necessidade de rezar, isolava-se. O jovem pastor ficou muito impressionado com as palavras de Nossa Senhora para "que não ofendam mais a Deus", e começou a refugiar-se na solidão "para consolar Jesus pelos pecados do mundo".
As três crianças tinham o costume de praticar flagelações, e, segundo relatos dos três jovens, Nossa Senhora numa das aparições pediu-lhes moderação. Mas Francisco, o que mais se punia, continuou a fazer penitência e deixou de ir à escola. É muito provável que os prolongados jejuns lhe tenham enfraquecido o corpo, acabando por sucumbir à epidemia do vírus da gripe espanhola que dizimou grande parte da população da Europa em 1918. Este vírus mortal foi uma pesada herança da Segunda Guerra Mundial.
O pequeno Francisco Marto faleceu no dia 4 de abril de 1919. O seu corpo foi sepultado no cemitério onde permaneceu até ao ano de 1952, altura em que os seus restos mortais foram transladados para a basílica da Cova da Iria, local onde ocorreram as aparições.
Francisco Marto foi beatificado pelo Papa João Paulo II no dia 13 de maio de 2000, 83 anos após a primeira aparição de Nossa Senhora. A Santa Sé estabeleceu o dia 20 de fevereiro para devoção ao beato.
Jacinta
Jacinta de Jesus Marto nasceu em Fátima, conselho de Ourém, no dia 11 de março de 1910 e, juntamente com a prima Lúcia e o seu irmão Francisco, testemunhou a aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria, entre os dias 13 de maio e 13 de outubro de 1917.
Jacinta era a filha mais nova de Manuel Pedro Marto e da sua mulher, Olímpia de Jesus dos Santos, e tal como o seu irmão e a sua prima Lúcia, Jacinta era a típica criança do Portugal rural da primeira metade do século XX. À semelhança da maioria das crianças pobres da época, Jacinta não frequentava a escola, trabalhava como pastora e, com o seu irmão e a sua prima Lúcia, todos os dias levava para o campo um pequeno rebanho. Mas assim que se iniciaram as aparições, por recomendação de Nossa Senhora, Jacinta entrou na escola primária. De acordo com as memórias da prima Lúcia, Jacinta era uma criança afetuosa e muito amável, contudo emocionalmente era muito frágil.
Os dois irmãos ficaram profundamente marcados pelas aparições de Nossa Senhora, sobretudo com a visão do Inferno. Assombrada com a triste sorte dos pecadores, na sua simplicidade e inocência, Jacinta decidiu responder ao pedido da Virgem Maria, começando a fazer penitência e sacrifício pela conversão dos pecadores.
Lúcia, Jacinta e Francisco praticavam mortificações e penitências, mas era Jacinta quem se sacrificava mais em prol da absolvição dos pecadores. À semelhança do que aconteceu com o irmão Francisco, os prolongados jejuns enfraqueceram-na de tal forma que acabou por morrer, vítima da epidemia de gripe que devastou a Europa na primeira metade do século XX. Jacinta sofria de pleurisia e, por isso, não podia ser anestesiada devido à fragilidade do seu coração. Apesar de ter sido assistida em vários hospitais, em busca de um tratamento eficaz, Jacinta acabou por ser vencida pela doença no dia 20 de fevereiro de 1920, no Hospital D. Estefânia, em Lisboa. No ano 1935, os seus restos mortais foram transladados para Fátima, tendo sido sepultados junto aos do seu irmão Francisco na Basílica da Cova da Iria.
Jacinta foi beatificada pelo Papa João Paulo II no dia 13 de maio de 2000. A memória de Jacinta celebra-se a 20 de fevereiro. Jacinta foi mais nova não-mártir cristã a ser beatificada.
No dia 11 de março de 2010 celebrou-se o centenário do nascimento da Beata Jacinta Marto, tendo a audiência sido presidida pelo Santo Padre Bento XVI.
Aparições a Jacinta
Jacinta vê o Santo Padre
Lúcia, na sua Terceira Memória, narra a aparição do Santo Padre a Jacinta: "Um dia, fomos passar as horas da sesta para junto do poço de meus pais. A Jacinta sentou-se nas lajes do poço; o Francisco foi comigo procurar o mel silvestre nas silvas dum silvado duma ribanceira que ali havia. Passado um pouco de tempo, a Jacinta chama por mim: – Não viste o Santo Padre? – Não! – Não sei como foi! Eu vi o Santo Padre numa casa muito grande, de joelhos, diante de uma mesa, com as mãos na cara, a chorar. Fora da casa estava muita gente e uns atiravam-lhe pedras, outros rogavam-lhe pragas e diziam-lhe muitas palavras feias. Coitadinho do Santo Padre! Temos que pedir muito por Ele. Noutra ocasião, fomos para a Lapa do Cabeço. Chegados aí, prostrámo-nos por terra, a rezar as orações do Anjo. Passado algum tempo, a Jacinta ergue-se e chama por mim: – Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente, a chorar com fome, e não têm nada para comer? E o Santo Padre em uma Igreja, diante do Imaculado Coração de Maria, a rezar? E tanta gente a rezar com Ele?”
As visões da guerra
Lúcia descreve nos seus manuscritos as visões de Jacinta relativas à guerra: "Um dia fui a sua casa, para estar um pouco com ela. Encontrei-a sentada na cama, muito pensativa. – Jacinta, que estás a pensar? – Na guerra que há-de vir. Há-de morrer tanta gente! E vai quase toda para o inferno! Hão-de ser arrasadas muitas casas e mortos muitos Padres (tratava-se da Segunda Guerra Mundial). Olha: eu vou para o Céu. E tu, quando vires, de noite, essa luz que aquela Senhora disse que vem antes, foge para lá também! – Não vês que para o Céu não se pode fugir? – É verdade! Não podes. Mas não tenhas medo! Eu, no Céu, hei-de pedir muito por ti, pelo Santo Padre, por Portugal, para que a guerra não venha para cá, e por todos os Sacerdotes.
As Visitas de Nossa Senhora aos irmãos pastores
Os irmãos Francisco e Jacinta adoeceram praticamente ao mesmo tempo, no dia 23 de dezembro de 1918. Quando Lúcia soube que os primos estavam doentes, de imediato se deslocou à sua casa para os visitar e, quando lá chegou apercebeu-se do estado eufórico em que Jacinta se encontrava. Na sua Primeira Memória, Lúcia narra uma das suas visitas à prima Jacinta: "Um dia mandou-me chamar: que fosse junto dela depressa. Lá fui, correndo. – Nossa Senhora veio ver-nos e diz que vem buscar o Francisco para o Céu, muito em breve. E a mim perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim. Disse-me que ia para um hospital, que lá sofreria muito; que sofresse pela conversão dos pecadores, em reparação dos pecados contra o Imaculado Coração de Maria e por amor de Jesus. Perguntei se tu ias comigo. Disse que não. Isto é o que me custa mais. Disse que ia minha mãe levar-me e, depois, fico lá sozinha!” Em finais de dezembro de 1919, de novo a Santíssima Virgem se dignou a visitar Jacinta, para Ihe anunciar novas penas e sacrifícios: “Deu-me a notícia e dizia-me: – Disse-me que vou para Lisboa, para outro hospital; que não te torno a ver, nem os meus pais; que, depois de sofrer muito, morro sozinha, mas que não tenha medo; que me vai lá Ela buscar para o Céu.”
Durante a sua permanência de 18 dias no hospital em Lisboa, Jacinta foi agraciada com novas visitas de Nossa Senhora, que lhe anunciou o dia e a hora em que haveria de morrer. Quatro dias antes de a levar para o Céu, a Santíssima Virgem tirou-lhe todas as dores. Nas vésperas da sua morte, alguém lhe perguntou se queria ver a mãe, ao que ela respondeu: “- A minha família durará pouco tempo e em breve se encontrarão no Céu… Nossa Senhora aparecerá outra vez, mas não a mim, porque com certeza morro, como Ela me disse".
Lúcia
Lúcia de Jesus dos Santos nasceu no lugar de Aljustrel, freguesia de Fátima e conselho de Ourém, no dia 28 de março de 1907. Conhecida no Carmelo da Ordem das Carmelitas Descalças como Irmã Lúcia do Coração Imaculado, e reverenciada por alguns católicos portugueses simplesmente como a Irmã Lúcia, foi juntamente com Jacinta Marto e Francisco Marto, uma das três crianças que viram Nossa Senhora na Cova da Iria no ano de 1917.
Lúcia de Jesus era a filha mais nova de António dos Santos e de Maria Rosa que, ao todo, tiveram sete filhos. Lúcia tinha apenas dez anos quando viu, pela primeira vez, Nossa Senhora na Cova da Iria, juntamente com os primos Jacinta e Francisco Marto. Apesar das três crianças terem presenciado as aparições, apenas Lúcia conseguia falar com a Virgem Nossa Senhora. A sua prima Jacinta ouvia, mas não falava e Francisco nem sequer ouvia as palavras de Nossa Senhora. Lúcia foi, assim, a grande portadora dos Segredos de Fátima.
Assim que o fenómeno das aparições se espalhou a todo o território português, a hierarquia da igreja católica mostrou-se bastante cética no que respeita às afirmações dos três jovens pastorinhos. Só no dia 13 de outubro de 1930, treze anos após as aparições na Cova da Iria, o bispo de Leiria tornou público, oficialmente, que as aparições relatadas pelas crianças eram dignas de consideração. A partir desse dia, o Santuário de Fátima ganhou projeção internacional, por sua vez, a irmã Lúcia estava confinada a viver cada vez mais isolada.
No dia 17 de junho de 1921, D. José Alves Correia da Silva, bispo de Leiria, autorizou a entrada de Lúcia no colégio das Irmãs Doroteias, uma congregação de religiosas católicas situada em Vilar, no distrito do Porto. Há quem defenda que a entrada de Lúcia neste convento serviu para a proteger dos peregrinos e curiosos que acorriam cada vez mais à Cova da Iria na esperança de falar com a única testemunha viva da aparição de Nossa Senhora.
Em 1928, professou como doroteia em Tui, na vizinha Espanha, onde viveu alguns anos.
No ano de 1946, a Irmã Lúcia regressou a Portugal e, dois anos mais tarde, entrou para o Carmelo de Santa Teresa em Coimbra, onde professou como carmelita a 31 de maio de 1949. Foi no convento de Coimbra que Lúcia escreveu as obras intituladas Memórias e Apelos da Mensagem de Fátima. Em 1991, quando o Papa João Paulo II visitou o Santuário de Fátima, convidou a Irmã Lúcia a deslocar-se ali e esteve reunido com ela doze minutos. Alguns anos antes Lúcia já se tinha encontrado com o Papa Paulo VI também em Fátima.
A Irmã Lúcia morreu aos 98 anos, no dia 13 de fevereiro de 2005, no Convento Carmelita de Santa Teresa em Coimbra. O Papa João Paulo II rezou pela Irmã Lúcia, fazendo-se representar pelo cardeal Tarcísio Bertone no funeral da vidente. No dia 19 de fevereiro de 2006, o corpo da Irmã Lúcia foi trasladado de Coimbra para o Santuário de Fátima para ser sepultado junto dos seus primos, Francisco e Jacinta Marto.
No dia 14 de fevereiro de 2008, na Catedral de Coimbra em Portugal, o Cardeal José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, por ocasião do aniversário da morte da "vidente de Fátima", tornou público que o papa Bento XVI, atendendo a um pedido do bispo de Coimbra, Albino Mamede Cleto, e também de numerosos bispos e fiéis do mundo, autorizou o início da fase diocesana de beatificação da Irmã Lúcia, tendo passado apenas três anos sobre a sua morte.